quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Lógica de Resultados

Eis uma coisa que vejo sendo reproduzida a todo momento e que cada vez mais me irrita... As pessoas em geral entram mt nisso, caem sempre nessa lógica, e isso é mt incômodo, mas também é esperável; o foda é que também muita gente de esquerda (e sincera e dedicada) cai nessa lógica. Como nunca vi uma elaboração sobre isso, resolvi escrever no meu caderno um dia desses - e vim aqui compartilhar com vocês a elaboração. Creio que o Oghma vai gostar mt a elaboração.



Existe uma lógica que permeia a relação da maior parte das pessoas com a maior parte dos seus projetos e ações, que é essencialmente uma lógica burguesa e liberal; como mt bem disse um cara do pstu, uma vez, "a ideologia serve para você ser trabalhador do pescoço pra baixo e burguês do pescoço pra cima" - perfeito! Nesse caso, específico, chamo de Lógica de Resultados.

A lógica de resultados essencialmente se baseia nisso, resultados. Essa lógica tem primazia pelos resultados, ou seja, os põe acima e a frente dos métodos; não me refiro num campo moral, mas lógico: não é questão de "os fins justificam os meios", mas sim de se ver a validade de alguém ou de suas táticas exclusivamente em função dos resultados obtidos. É como o burguês que avalia suas filiais pela produtividade e decide eliminar uma que é menos produtiva - ele não se importa de ver se ele investiu condizentemente naquela filial, se ela está bem localizada, se tem funcionários suficientes, se os funcionários estão satisfeitos com as condições de trabalho, etc. A mesma lógica que leva o governo a fazer uma prova para avaliar a qualidade das escolas e rankeá-las, sem avaliar conjuntamente as condições nas quais o trabalho dos professores e funcionários se dá, sem avaliar a estrutura das escolas, a assistência estudantil, as políticas de reciclagem de professores, de fomento ao estudo e à produção científica/intelectual, et um longo cetera.

Essa lógica funciona fundamentalmente impondo resultados a serem alcançados e o tempo dentro dos quais se deve alcançá-la. Depois de definido isso, define-se um método para se alcançar este resultado baseado em métodos que tenham conseguido o mesmo resultado; mesmo q em outras circunstâncias.

Essa é a lógica das metas em empresas: se estabelece um objetivo e um tempo, em geral mais alto o primeiro e menor o segundo. A partir de estabelecidos esses dois, se impõe um método baseado no que já "deu certo", ou seja, um método abstrato, feito em outras circunstâncias quaisquer e que simplesmente não leva em conta as pessoas que estão envolvidas e se seu esforço vai ser descomunal ou não. Os trabalhadores então se matam de trabalhar e se foder pra garantir a maldita meta. E quando não alcançam, vem os discursos de "vocês não são eficientes"... eficiente é a puta que o pariu! Parou pra olhar as condições de trabalho antes? Propôs um método mais eficiente? Viu se as vendas não baixaram por outros motivos? Viu se eles não terminaram com a esposa ou ficaram doentes? Em geral, todas essas coisas são sabidas, só não têm importância para a Lógica dos Resultados.

A lógica de resultados é a mesma que diz que todo pobre é vagabundo, que quem não passa no vestibular é burro, que quem não é divertido não merece atenção, etc...

Isso também costuma se combinar com a estigmatização: como o resultado é tudo e as condições e esforços não são tão importantes quanto ele, aqueles que não conseguem alcançar o resultado vêem-se reduzidos à sua "falha", à sua incapacidade, e todo o seu ser se desfaz, todo o seu esforço, toda sua subjetividade, todas as suas qualidades, tudo reduzido ao fato de que não foi capaz de chegar ao resultado esperado - ou seja, alienação; na forma de angústia e frustração.



Fazemos isso muitas vezes inconscientemente com nós mesmos; quando querem fazer um regime ou queremos parar de consumir alguma coisa, ou fazer alguma coisa, etc. Geralmente nos martirizamos na primeira falha, nos pequenos vacilos, nos culpando por nossas frustrações, como se nada mais tivesse responsabilidade sobre as coisas e resolver nossos problemas dependesse única e exclusivamente da nossa capacidade pessoal de "superar as barreiras" etc. Claro que essa lógica é mt importante pra manutenção do capitalismo, pois joga a culpa sobre o indivíduo.

E está aí uma parte fundamental dessa lógica: ela é individualista (mesmo quando lida com grupos); ela não vê os indivíduos como pessoas, ou seja, vê como seres abstratos e "em iguais condições" e não como seres reais, que existem localizados no mundo, que são alguma coisa antes de serem batedores de metas, que têm vidas, subjetividades, capacidades e limitações que têm que ser levadas em conta para qualquer coisa que forem fazer e para avaliar a validade de qualquer resultado.

Não estou dizendo aqui que o resultado não importa. Estou dizendo que ele não é o centro de tudo; quando alguém não consegue fazer alguma coisa, não temos que pensar imediatamente no quanto ele não fez o que queríamos que ele fizesse; proponho que pensemos no esforço que ele fez para tentar chegar ao resultado que chegou e que possibilidades ele teve de chegar ao resultado que esperávamos.

Proponho q se use a lógica inversa, a Lógica do Esforço e das Possibilidades; uma lógica em que existem sim resultados e busca por eles, mas em que alcançar resultados pressupõe, antes de tudo, estabelecer um método que possibilite as pessoas reais envolvidas no processo de alcançar o resultado, sendo o tempo submetido a isso - caso o tempo seja restrito, que se tenha metas de resultado baseados no quanto é possível fazer com o método e o tempo dados. Creio que essa seja a lógica mais saudável para as pessoas e seja a lógica que mais interessa à classe trabalhadora. Nessa lógica, a falha não é atestado de incompetência, é a mostra de que algo precisa ser melhorado, podendo ser inclusive a própria meta de resultados.

Isso pode levar a menos eficiência? do ponto de vista da burguesia (investimento por resultado) sim, obviamente; do ponto de vista do trabalhador (esforço por resultado), não, pelo contrário; por que se um objetivo é urgente e mt necessário, ao invés de tirar o couro das pessoas inutilmente, se propõe mecanismos concretos para se conseguir aquilo o máximo possível nas melhores condições. Invistam mais em educação e saúde, proponham formas de funcionamento ligadas às necessidades dos funcionários e da população que potencializem seu trabalho, que tornem o atendimento mais rápido e mais seguro, que tornem a aula mais produtiva, que garantam a permanência do aluno, o tratamento do doente, etc. ao invés de cortas gastos e mandar a negada se foder pra compensar.

Sim, sim, eu sei que o capitalismo não deixa a gente usar outra lógica boa parte das vezes, mas vale a pena localizar o problema - faz parte do combate dele.

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