No momento, passamos por uma eleição nacional e estadual, portanto, a minha elaboração está um pouco fora de contexto. Mas tenho certeza de que o que vou descrever não está descolado de uma política mais geral aplicada no Estado e talvez relacionada com um fenômeno mais amplo, nacional ou internacional. Mas, por uma questão de quanto tenho acesso a informações sobre isso na atual situação da minha vida, vou me restringir à manifestação específica na política da cidade do Rio de Janeiro.
O aumento brutal nos preços dos imóveis é
evidente. Hoje, uma busca simples num site de anúncio de moradias para aluguel
demonstra que, em algumas regiões da cidade, o aluguel de uma quitinete pode
chegar a mais de R$1500,00, numa realidade em que o salário mínimo é de
R$724,00. O preço das casas para compra aumentou em 300% nos últimos 5 anos. É
meio inquestionável que hoje em dia não é possível ser um trabalhador comum,
ganhando perto de 1000 reais (jogando pra cima), morar sozinho no Rio de
Janeiro, a não ser que ele viva no aperto, usando apenas serviços públicos (que
são, em geral, uma merda, assim como boa parte da iniciativa privada) e morando
longe de tudo.
Esse aumento brutal dos preços dos imóveis foi
feito apesar da grande expansão imobiliária iniciada há alguns anos atrás (com
empreendimentos nessa área pipocando para todos os lados). Creio que seja fácil
identificar 3 elementos que contribuíram fundamentalmente para esse fenômeno:
1 – As UPPs: Com a política de UPPs, uma parte
do tráfico de drogas (grande organizador da violência não-institucional na
cidade e no sul-sudeste do Brasil hoje) foi expulsa das favelas, onde se
escondia usando a população como escudo humano e se aproveitando das péssimas
condições de vida para angariar funcionários fiéis e dedicados (dispostos a
trabalhar muito, se submeter a uma hierarquia rígida e correr risco de vida em
troca de dinheiro e status... qualquer semelhança com a polícia não é mera
coincidência). Com essa migração da criminalidade para outras regiões da cidade
e do estado, algumas áreas foram tremendamente valorizadas, especialmente na
Zona Sul, no Centro e na região da grande Tijuca na Zona Norte da cidade
(áreas, em geral, nobres, mas que possuem favelas). Com isso, o Estado foi
capaz de penetrar nesses ambientes e impôr o pagamento de contas aos moradores
(o que aumentou tremendamente o custo de vida) bem como ele foi capaz de
providenciar um aumento relativo na segurança das áreas nobres. Isso levou ao
encarecimento dos imóveis nessas regiões (que já eram caros, mas eram
compráveis/alugáveis, ou que eram muito baratos, como nas favelas) e na cidade
como um todo pela ilusão de segurança.
2 – O Programa Minha Casa Minha Vida: Com o
programa, que banca uma parte significativa dos custos de compra de imóveis
pelos mais pobres, foi possível ao mercado imobiliário manter altos preços para
os imóveis sem perder clientes, pois o Estado estava financiando esses
empreendimentos através do abatimento de custos para os clientes. Ou seja, o
preço dos imóveis ficou artificialmente mais altos e mais seguros com a injeção
de dinheiro público para sustentar o lucro dessas iniciativas privadas.
Voltados principalmente para as áreas da Zona Oeste, esses empreendimentos
aumentaram o preço médio de mercado dos imóveis dessa região, que não foi
afetada pelas UPPs.
3 – O Vácuo de propriedades imobiliárias: Não
sei precisar quando, mas, no passado, houveram projetos governamentais de
estímulo à compra da casa própria que levaram a uma grande quantidade de
setores de classe média baixa e média que se tornaram proprietários de imóveis,
usados principalmente para suas próprias moradias. A ausência (ou ineficiência)
desse tipo de projeto, especialmente durante a redemocratização e os governos
neoliberais, levou a várias gerações que tiveram maiores dificuldades de
conseguir uma casa própria. O crescimento da economia e seu reflexo no aumento
dos salários levou várias dessas gerações a aspirarem por uma casa própria e
isso criou demanda extra para o mercado imobiliário, estimulado também pelo
programa do governo já citado, que, artificialmente, levantou a demanda do
mercado. Com isso, os preços e as iniciativas puderam crescer exponencialmente.
É um fator importante notar que 2 dos 3
fatores citados são políticas de governo. Será possível pensar que há uma
preocupação específica com esse mercado?
Bom, na época em que as UPPs estavam
começando, Eike Batista, que ajudou no financiamento dessa política, declarou
que pretendia construir condomínios de luxo nas regiões então ocupadas pelo
tráfico e hoje ocupadas pela polícia. Mas não há uma população favelada
habitante daquelas regiões? Como ele conseguiria construir esses
empreendimentos imobiliários milionários com aquela população presente e com a
característica paisagem da favela que não agrada nenhum burguês do país?
Talvez as pessoas não estejam cientes, mas
Eike Batista fez fortuna com, entre outras coisas, atividades como a indústria
petrolífera, um dos grandes produtos da produção nacional, controlado pela
Petrobrás, que vem sofrendo uma gradual privatização via terceirização e
abertura de capitais, bem como tem vários poços de petróleo privatizados.
Talvez também as pessoas não estejam cientes, mas ele também manteve uma
relação bem amistosa e interessada em alguns setores da política brasileira,
inclusive o PT e o PMDB.
Interessante notar que logo depois da
descoberta do Pré-Sal, que inclui várias áreas do estado do Rio de Janeiro,
várias reuniões fechadas entre nossos governos e os EUA e diversos setores
empresariais foram feitas. Interessante notar também que, depois disso, houve
uma considerável aproximação entre Eike e o PT/PMDB. Inclusive notar que, pouco
depois, o Brasil foi eleito para sediar os Jogos Olímpicos e a Copa do Mundo,
sendo os jogos especificamente no Rio de Janeiro. Esse fato levou a toda uma
política profunda de reforma da estrutura da cidade que levaram, entre outras
coisas, à valorização de certas regiões dela. Parte dessas políticas foi a das
UPPs. Então quer dizer que Eike e os governos que promoveram as políticas que
favoreceram o mercado imobiliário logo depois de ter sido descoberto o pré-sal
e de o país e a cidade serem escolhidos para sediar esses eventos esportivos?
Será coincidência que Eike seja um magnata poderoso no âmbito do petróleo e
tenha revelado interesse em entrar no ramo imobiliário com as UPPs?
Pois bem, a exploração do Pré-sal, cuja
produção teoricamente seria monopólio da Petrobrás, foi vendida para a
iniciativa privada (um ramo do qual Eike Batista faz parte) e apenas os Royalties
do petróleo ficarão para os governos estaduais e federal. Ou seja, a maior
parte da produção de petróleo irá gerar lucros na iniciativa privada controlada
por principalmente empresas estrangeiras (principalmente americanas – pq será
que houveram reuniões fechadas com os EUA nesse período?) e pelo capital de
Eike.
Ora, a exploração do Petróleo pelo capital
privado gerará naturalmente uma criação de centros de controle dessa exploração,
e de outras atividades relacionadas, mais próximos do local onde a atividade
será desenvolvida. No Rio, o centro é principalmente Macaé, mas o maior centro
urbano do estado é o Rio de Janeiro, onde ficam sedes de várias empresas e órgãos
governamentais, inclusive a Petrobrás. É de se esperar que diversas empresas se
desloquem para a cidade do Rio de Janeiro a fim de ficar mais próximos de sua
atividade econômica. Com isso, é de se esperar que regiões como o Centro e a
Zona Sul recebam mais empresas que atualmente não se localizam na cidade e que
isso estimule também a vinda de diversas pessoas para trabalhar nessas essas
empresas. Além disso, outras empresas virão de olho no consumo que o fluxo novo
e mais intenso de dinheiro irá gerar na região. Isso refletiria, portanto, num
aumento do custo de vida e na necessidade de abrir espaço nesses locais para
novos moradores, que, provavelmente, teriam grandes remunerações por
trabalharem em sedes de empresas e atividades de gestão. Para onde essas
pessoas iriam? Para os empreendimentos de Eike Batista e cia.
Para dar conta desse fluxo de pessoas e
empresas vindo para o Rio de Janeiro, seria necessário investir em retirar os
mendigos, bandidos e pobres das áreas nobres da cidade e fazer reformas estruturais
importantes na dinâmica urbana. Desde o anúncio de que os eventos esportivos
internacionais aconteceriam no Brasil, houve um processo de intensas reformas
na cidade, inclusive com a expansão do Metrô na Zona Sul e na Tijuca, bem como
o estabelecimento de estações com integrações para várias regiões da cidade e a
criação do Metrô na Superfície, permitindo deslocamento gratuito fora do metrô
pela zona sul, alcançando seu extremo oeste. Praticamente toda a zona sul está
hoje coberta por sistemas eficientes de transporte público e várias reformas
foram feitas no Centro e na Grande Tijuca, inclusive na região do porto, no
centro, tradicionalmente uma região pobre. Muitos provavelmente não sabem, mas
logo do início da preparação para a copa, tornou-se comum a expulsão de
famílias pobres (e majoritariamente negras) dessas regiões, muitas vezes à
força, muitas vezes sem qualquer forma de reembolso.
Antes do crescimento da população da Zona Sul,
do Centro e da Grande Tijuca, já é perceptível um aumento surreal dos preços em
geral, desde os salgados com refresco até roupas, aparelhos e serviços. Isso
provavelmente tem elementos de reflexo da Inflação, do aumento dos salários e
do encarecimento do aluguel de imóveis na região. Mas isso provavelmente não é
suficiente, pois esses elementos influenciam na Zona Oeste inclusive, então o
crescimento do custo de vida deveria ser proporcional ao dessas regiões, mas
não foi. Isso pode indicar uma ação consciente de setores da burguesia carioca
ou simplesmente a existência de algum outro elemento em influência que eu não
seja capaz de considerar no momento.
De qualquer forma, a consequência disso é
muito clara: o aumento do custo de vida levará um setor mais pobre da classe
trabalhadora da região a migrar para regiões mais baratas da cidade,
especialmente aquelas em que há iniciativas do programa Minha Casa Minha Vida.
Com seus imóveis valendo mais, boa parte dos moradores de favelas e dos mais
pobres trabalhadores de regiões hoje supervalorizadas, se sentirão fortemente
impelidos a vender seus imóveis e ir para regiões mais
afastadas, especialmente na Zona Oeste. Muitos, também, irão para os imóveis de
seus familiares mais velhos que são proprietários de imóveis nessas regiões
mais afastadas, levando-os a construir casas e “puxadinhos” nessas regiões, em
terrenos já ocupados, ou a ajudar na ocupação de regiões atualmente visadas
pela especulação imobiliária, principalmente Zona Oeste e Baixada Fluminense.
A Consequência disso é um esvaziamento das Zonas
Sul e Centro e a região da Grande Tijuca, ocasionando um aumento da oferta de
imóveis para aluguel ou para venda. Alguma dúvida de que esses terrenos serão
comprados por empresários como Eike Batista para construir grandes condomínios
e prédios? Alguma dúvida de que isso será visto como “embelezamento da cidade”?
Me parece que toda a política de valorização da região e boa parte do
encarecimento do custo de vida estão a serviço dessa “limpeza” dessas regiões,
expulsando economicamente esses setores das regiões nobres da cidade - para
onde irão as empresas movidas pelo Pré-Sal (direta e indiretamente) e seus
funcionários.
Isso por si só já seria ruim o suficiente: a
mudança de toda a estrutura de vida de uma boa parte da população para pior em
função de uma “limpeza” de áreas nobres para receber estrangeiros, altos
funcionários e empresas. No entanto, o fenômeno não para por aí.
Quais são as consequências sociológicas desse
tipo de emigração? Muito ruins.
Primeiramente, essas regiões da cidade
deixarão de ter, em larga medida, a presença de pobres e negros no ambiente
urbano. A pobreza fica, assim, mais invisibilizada, dificultando a empatia de
setores de classe média dessas regiões quanto às demandas da população mais
pobre. Além disso, gerará toda uma construção de vida nos habitantes de lá sem
a presença significativa de negros, tornando-os mais e mais estereotipados no
imaginário da população e intensificando o racismo. Além disso, as políticas de
estruturação urbana que acontecem muito mais intensamente nessas regiões que no
resto da cidade, deixarão de beneficiar setores negros e pobres, aumentando a
segregação espacial e gerando uma desoneração dos governos quanto ao cuidado de
outras regiões.
Ao mesmo tempo, a ocupação de áreas da Zona
Oeste e da Baixada Fluminense levarão ao distanciamento de muitas pessoas de
seus locais de trabalho na Zona Sul e no Centro, gerando desemprego e intensificação
do tráfego para essas regiões e, portanto, prolongamento do tempo de
deslocamento dessas pessoas e de todas as outras. A consequência psicossocial
desse processo é o aumento geral do estresse do trabalho e uma redução do tempo
livre da população trabalhadora em geral – afinal, além dos pobres e favelados
da Zona Sul e Centro, várias famílias se deslocarão para a Zona Oeste em função
do Minha Casa Minha Vida e do sonho da casa própria.
Esse processo levará a um aumento na
dificuldade de se conseguir empregos no Centro e na Zona Sul, o que pode
diminuir o tráfego, mas gerará uma diminuição das oportunidades de trabalho
e/ou uma ainda maior segregação espacial da pobreza com a localização das
oportunidades de trabalho nessas regiões em bem piores condições, dado a maior
necessidade desses setores de terem empregos.
Além disso, muitos irão morar com seus
parentes mais velhos nessas regiões ou vão construir famílias nelas. Como elas
não estão livres da especulação imobiliária e a classe média está crescendo em
endividamento, as condições de se conseguir uma casa própria no futuro de médio
prazo, mesmo com a redução do preço dos imóveis, tendem a piorar e, portanto,
se tornará mais comum do que é hoje a convivência de parentes de gerações
diferentes sob o mesmo teto por mais tempo, inclusive com a constituição de
mais de uma família nuclear na mesma habitação, oriunda de filhos que se casam
e não têm condições de sair de casa – ou, quando eles conseguirem sair,
provavelmente será para uma região próxima, pela ausência de condições de
comprar/alugar imóveis mais próximos do centro/zona sul. Isso aumentará, mais
que os laços familiares, os vínculos de vizinhança (e portanto, de vigilância
social) e o controle dos pais sobre as escolhas dos filhos.
Esse fenômeno combinado com o crescimento em
progressão geométrica das igrejas evangélicas conservadoras, especialmente nas
áreas mais pobres, especialmente dos subúrbios, a tendência é que o poder dos
setores conservadores de vigilância aumente exponencialmente. Pais e Mães
conservadores cansados de um dia de trabalho intenso e uma viagem longa para
cara terão maior tendência a agir agressivamente dentro de casa, aumentando a
violência doméstica (de pais e mães sobre filhos e filhas, mas também de homens
contra mulheres, especialmente, e também contra os idosos), inclusive sexual
(já que a maioria dos casos de estupro se dão com conhecidos e não com
desconhecidos). A geração de pais, proprietários das casas, que serão um bem
ainda mais difícil de se conseguir, terão mais poder sobre as decisões dos
filhos, mesmo casados, pelo poder sobre o meio de sobrevivência que é a casa.
Com a intensificação da vigilância dos pais, parentes e vizinhos, o sentimento
de comunidade gerado por essas relações e alimentado por essas igrejas servirá
de substrato para um controle conservador cada vez mais intenso sobre
principalmente os mais jovens – ou seja, o machismo, a homofobia e a polifobia
tendem a se intensificar e as opções de liberdade quanto a isso são cada vez
mais complicadas. Com isso, também, a intolerância religiosa tende a crescer.
Como a maioria da população trabalhadora adulta dessas regiões estará mais
intransigente e impaciente como efeito da intensificação do estresse, a
repressão a comportamentos desviantes e o recrudescimento de práticas
conservadoras e intolerantes aumentarão.
Isso também terá um outro elemento importante,
decorrente também do descaso do poder público quanto a essas regiões: o aumento
dos poderes paralelos, especialmente as milícias no Rio de Janeiro e o Tráfico
de Drogas na Baixada Fluminense. Já conseguimos ver o crescimento das milícias
hoje na Zona Oeste, especialmente em regiões do projeto Minha Casa Minha Vida.
Esse é um forte indício dessa tendência.
Onde mais vemos o crescimento de igrejas
evangélicas, especialmente as conservadoras? Na Zona Oeste e na região
desprivilegiada da Zona Norte. Quais as Igrejas que mais crescem nesses meios?
As conservadoras.
É bem possível que a milícia supere seu
estágio hoje embrionário de controle econômico das regiões e manutenção da
ordem de maneira mais geral (atacando criminosos) para tomar uma postura mais
aliada das Igrejas e conformar-se numa polícia moral, introduzindo-se nos
assuntos privados como sexualidade e religião afim de manter seu ordenamento
político-moral.
Claro que tudo isso levará à apropriação dessa
população de forma sólida por políticos que se aliem com as milícias e com as
igrejas, gerando senhores locais mais fortes e, portanto, deputados
reacionários mais fortes. Isso tende a geral, naturalmente, também, uma
repressão política extra estatal muito forte e violenta, especialmente sobre
socialistas, mas sobre qualquer um que se oponha ao chefe da região. Um exemplo
forte desse processo é a situação da Gardênia Azul e do Rio das Pedras.
Além disso, a maior parte da população está
ainda mais distante de atividades culturais e universidades públicas – e,
portanto, sua dificuldade de acesso a esses elementos será ainda pior.
Isso me parece mais que um acidente, mas um
projeto de reestruturação urbana engendrado pelas políticas dos governos. Isso
fica bem claro no início do fenômeno com as influências que as políticas
públicas tiveram para esse processo – e fica ainda mais claro quando sabemos
que essas empresas precisam de permissão do Estado para atuar nessas regiões
com seus empreendimentos. No entanto, não é preciso acreditar que isso é algo
premeditado para se preocupar com essa situação. Temos à nossa frente uma
reestruturação forte que está tomando proporções grandes e que pode influenciar
no futuro da cidade e alterar completamente sua configuração geográfica e
social. E para pior.
Como lidar com isso? Primeiramente, precisamos
identificar nossos inimigos. Essas políticas são tocadas principalmente pelo PT
(através do governo federal) e pelo PMDB (no governo estadual e na prefeitura).
Provavelmente há um plano mais amplo de reestruturação do estado em função do
Pré-sal que não sou capaz de destrinchar, mas é evidente que, qualquer que seja
o próximo governo, especialmente por estarem todos ligados politicamente,
provavelmente o projeto de reestruturação continuará. A diferença mais
significativa pode ser a de que o processo de fortalecimento das milícias e de
sua ligação com as Igrejas Evangélicas conservadoras seja mais rápido se o
setor político do Garotinho ou do Crivella saírem vitoriosos no processo
eleitoral do estado, pois ambos utilizarão o aparato do Estado para inserirem
seus grupos político-religiosos na Zona Oeste e na região empobrecida da Zona
Norte da cidade. Esse processo, no entanto, será sempre mediado pela interação
com a prefeitura, que continua na mão do PMDB e que usará de candidatos como
Brazão para crescer seus tentáculos políticos sobre a região. Mas Garotinho e
Crivella são coligados com o PT no âmbito federal, então a parceria continuará
qualquer que seja o governo eleito (As ligações de Pezão e Lindiberg com o
governo federal são evidentes). Se Marina for eleita para o governo federal
também não haverá uma verdadeira mudança de projeto pois ela já declarou que
pretende governar com ambos PSDB e PT – certamente, para que essa aliança dê
certo, alguns feudos precisam ser estabelecidos e isso certamente levará o PT e
o PMDB a ganharem a fatia do Rio de Janeiro, mesmo que tenham que mediar com
outros setores que estiverem no governo.
Como podemos combater isso, então?
Existem duas formas, ao meu ver, que se
combinam.
A primeira é estimular a classe trabalhadora
carioca a dividir apartamentos. Ou seja, mesmo que se prefira viver apenas um
casal (já que, para um indivíduo trabalhador normal é impossível viver
sozinho), é importante que se compartilhe apartamentos e despesas com outros
trabalhadores para que possam continuar morando em regiões próximas do
trabalho. Isso, além de baratear os custos, influencia no mercado se for uma
postura coletiva de relevância, podendo empurrar os preços dos imóveis (e,
possivelmente, do custo de vida) para baixo. Além disso, em situações de
dificuldades financeiras e estresse, a presença de outras pessoas pode ajudar
os laços de solidariedade para fora do grupo familiar, que pressupõe relações
hierarquizadas e de controle, para relações de afinidade e companheirismo de
classe, o que não só estimula a solidariedade de classe, como fortalece a
democracia operária – aprende-se a conviver com as diferenças tendo relações
horizontais com os diferentes. Além disso, permitiria essa postura uma maior
liberdade individual para os trabalhadores, especialmente os mais oprimidos,
como mulheres, homossexuais e polis. Essa política, no entanto, é inviável se
for uma postura individual e absolutamente desprezível em termos sociais – pois
os preços aumentarão mais e mais e, em algum momento, meramente permanecer vivo
nessas regiões será dispendioso demais.
A segunda, e mais importante, é mobilizar os
trabalhadores em torno a políticas que favoreçam a habitação em regiões mais
próximas, especialmente o aumento de salário e, em especial, o Auxílio Moradia
como direito trabalhista básico. Se conseguirmos o auxílio moradia atrelado a
algum índice relacionado com as variações dos preços dos imóveis, conseguiremos
tornar todo o projeto da burguesia para o Rio de Janeiro altamente
desinteressante – afinal, se ela poderia apenas demitir ou baixar os salários os
trabalhadores que moram longe, ela teria, assim, que bancar o aumento do preço
dos imóveis de maneira proporcional para todos os seus funcionários, gerando
custos fortíssimos. Com isso, a pressão para a redução dos preços dos imóveis
seria enorme e seria feito por setores da própria burguesia, estimulando a
divisão dela e favorecendo as conquistas dos trabalhadores em todos os
aspectos. Claro que isso repercutiria também num aumento dos preços dos
produtos e serviços, mas o limite desse aumento estaria atrelado às condições
de vida e remuneração de todos os trabalhadores, empurrando esse valor para
baixo. Além disso, seria importante haver uma luta para que o governo forçasse
as empresas a aceitarem o controle os preços. Se isso tiver importância,
provavelmente essa política não seria adotada pelo governo, mas as empresas do
ramo imobiliário sofreriam uma grande pressão que poderia reduzir os
investimentos do governo no setor e acabar por fazê-lo avançar no prejuízo que
já está tendo – acabando por baratear os custos dos imóveis, levando o setor à
quebra ou algo próximo, e favorecendo a mudança dos trabalhadores pobres e
negros para as regiões privilegiadas da cidade, empurrando o custo de vida para
baixo.
Para efetivar essas políticas, precisamos de
uma atuação unificada dos trabalhadores e da juventude, junto dos
setores oprimidos (já que esta elaboração demonstra a relação com as
opressões). É necessário que uma unidade da esquerda se efetive em torno à
denúncia desse plano político burguês para a cidade e que se unifique em torno
à bandeira do Auxílio Moradia, que deve ser central para o próximo período,
inclusive para as eleições de 2016 para a prefeitura, que podem ser
extremamente importantes.
É claro que essa elaboração é muito inicial
ainda. Ela carece de dados mais específicos que a dêem suporte, por exemplo, no
meio acadêmico. É necessário que haja políticas sociais e políticas planejadas
com o combate a esse projeto em mente. É preciso que uma pesquisa mais
aprofundada sobre isso seja feita, é preciso que uma oposição unificada se
forme, é preciso de muita coisa seja articulada e discutida. Mas não tenho
dúvidas do poder de mobilização que essa proposta pode ter se encabeçada pelos
setores de luta da classe trabalhadora.
Eaih, oq acham?
Vontade e Sabedoria na Guerra!
Eaih, oq acham?
Vontade e Sabedoria na Guerra!
Texto muito bom, muito coerente e condizente com a realidade... infelizmente concordo que estamos vivenciando esse projeto burguês mesmo.
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